No cenário político atual, onde a comunicação é um dos principais vetores de legitimação ou desgaste de um governo, a crise gerada pela proposta de mudança de regras no Pix se apresenta como um caso paradigmático. Não apenas pela falha intrínseca à medida em si, mas pela incapacidade do Governo Federal em gerenciar a narrativa e orientar corretamente a opinião pública.
A pesquisa recente da Quaest, por exemplo, expõe de maneira clara e contundente o impacto negativo desse episódio para a imagem do governo, sinalizando uma deterioração na avaliação do mandato que pode ter efeitos prolongados, principalmente nas redes sociais.
O governo Lula, que já enfrentava dificuldades de comunicação em meio ao contexto polarizado das redes sociais, sofreu um revés significativo com a crise do Pix. O episódio, marcado por uma comunicação ineficaz, deixou claro o quão vulnerável a administração está quando a mensagem não é bem estruturada e disseminada de forma eficiente. A desinformação, que se espalhou rapidamente, foi amplificada pela falta de uma resposta sólida e bem articulada do governo, alimentando um caos informativo que prejudicou diretamente a confiança da população. O resultado? Uma queda considerável nas transações via Pix, evidenciando que o impacto negativo não se limitou à percepção política, mas afetou até mesmo a funcionalidade da medida.
O deputado Nikolas Ferreira(PL/MG), com sua estratégia de comunicação digital, não perdeu tempo e rapidamente soube aproveitar a falha de comunicação do governo. Ao produzir uma peça publicitária que ressoou diretamente com a insatisfação popular, Ferreira não apenas conquistou a audiência, mas também se posicionou como um porta-voz eficaz da oposição. Sem citar Bolsonaro, Nikolas se distanciou da polarização ideológica e furou a bolha.
Sua capacidade de agir no timing certo e com a linguagem adequada ao ambiente digital o transformou em um protagonista da comunicação política no Brasil, atingindo 300 milhões de visualizações. Sua abordagem, sem recorrer a memes ou dancinhas, foi uma lição de como um político pode ser assertivo na captura da narrativa.
Esse fenômeno coloca em evidência uma questão central: a comunicação no ambiente digital exige mais do que uma gestão da informação; exige uma estratégia de narrativa que dialogue diretamente com o eleitor.
A pesquisa da Quaest, ao apontar uma queda significativa na aprovação do governo, ratifica que a comunicação errática do governo tem repercussões que vão além da esfera política, atingindo a confiança do público em políticas públicas essenciais.
Para 11% dos entrevistados, o episódio do Pix foi o pior revés enfrentado pelo governo até o momento, e 66% acreditam que o governo cometeu mais erros do que acertos no trato com o tema. Este é um reflexo direto de uma falha estratégica, onde a narrativa do governo não conseguiu se impor, deixando espaço para que opositores construíssem a sua própria versão dos fatos.
DANÇA DAS CADEIRAS: A aposta na mudança
Em um movimento estratégico para recuperar o controle da comunicação governamental, o presidente Lula decidiu substituir Paulo Pimenta e nomear o experiente marqueteiro baiano SidônioPalmeira para o comando da Secretaria de Comunicação. Palmeira, conhecido por sua atuação nas campanhas eleitorais, traz uma bagagem significativa de vitórias políticas, incluindo a eleição de Lula em 2022 e a trajetória vitoriosa de Jaques Wagner e Rui Costa na Bahia.
No entanto, sua entrada no governo não é apenas uma troca de peças. Ela representa uma tentativa de alinhamento mais preciso da comunicação institucional com os novos tempos políticos, onde as redes sociais desempenham um papel crucial. Admitindo que a comunicação do governo Lula carece de modernização, Sidônio trouxe para a equipe de comunicação profissionais com forte atuação nas redes do prefeito de Recife, João Campos (PSB), um dos maiores expoentes da esquerda no digital. A mudança não se limita à nomeação de novos nomes, mas a um reposicionamento estratégico: um esforço para adaptar a comunicação institucional às exigências de um eleitorado cada vez mais engajado nas plataformas digitais, onde as regras da comunicação política são dinâmicas e implacáveis.
Como disse Cazuza, "Quem quer comprar jornal de ontem, com notícias de anteontem?". A comunicação de um governo precisa ser capaz de se reinventar a cada dia, ajustando-se às necessidades de um eleitorado que se movimenta no ritmo da internet e das redes sociais.
Neste sentido, Sidônio Palmeira tem o desafio de implementar uma comunicação mais ágil, transparente e estratégica, capaz de reduzir o abismo de desinformação que atualmente afasta o governo da população.
No entanto, a pergunta que paira no ar é: será que, em meio a esse movimento de recuperação da comunicação, o governo conseguirá realmente reconquistar a narrativa perdida? E o que dizer da ascensão de figuras como Nikolas Ferreira, que souberam se posicionar como líderes de uma oposição eficaz nas redes sociais? A conferir.
Victor Limeira é jornalista e estrategista político